Acordei como acordam os tolos, cheio de felicidades

Acordei como acordam os tolos, cheio de felicidades
Estação Poesia

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Finais Felizes

Na borda da mesa um ramo de algodão, seco, velho, mas vivo, com bolas brancas, bolas de algodão.
Um presente, de quem já morreu. Gostamos muito destes presentes que não se repetem.
O ramo de algodão está morto na borda da mesa? A madeira da mesa, antes árvore em floresta urbana, está viva?
Estamos vivos, nestes corpos nascidos  a tanto tempo atrás? O que respiramos, o futuro, ou ontem?
Basta, estamos agora, não é aqui, é agora, neste exato minuto, prontos para nós mesmos. Ou nem tanto!
O que fazer?
Viver, com aquilo que somos. Tão pouco...
Não nos agrada?
Paciência, somos simples e mortais, não somos deuses, não somos eternos, não somos belos, nem perfeitos.
Somos gentinha, dois braços, duas pernas e tantas recordações. Sou um pouco de ti, quando minto e procuro o outro, além, muito além de mim, inalcançável. Sou um pouco de ti, quando minto para não estar só. E justificar-nos!
Desculpa esta palavras insanas, de poeta despedaçada no nascer do sol, e que acaba por acordar assim,
meio feliz  e espalhada entre palavras incertas e dúvidas generosas. Dúvidas generosas?
O ramo de algodão está vivo, por que é belo. E a beleza sempre escapa da morte, fica a espreita, escondida antes e depois do massacre e entra furtivamente nas bagagens dos sobreviventes, normalmente nos seus olhos. 
Quem disse que nos olhos só cabe a tristeza?
(c)Ione França
Parede, 14 de dezembro de 2016 
     


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